A Rapariga do Brinco de Pérola
À áurea luz da candeia
Flama o brinco que a nomeia,
O nácar no olhar aflito
Por segredo revelado.
De entre a boca muda, o grito,
Do fundo negro, o pecado.
Escondidos cabelo e noite
Por cascata de ocre breve,
Se há feições que a luz amoite,
Sombra de seda as descreve.
Exposta, crua e hesitante,
Muda, sempre e doravante,
Ao esgar vil da sociedade
Feita em betão e petróleo,
Esfíngica, sem idade,
A rapariga no óleo.