"A verdade sobre o caso Harry Quebert" - Joël Dicker

Após o estrondoso sucesso do seu primeiro livro, Marcus Goldman debate-se com a "doença dos escritores": não consegue ter uma ideia suficientemente boa para o seu próximo romance. Aflito com a sua aparente incapacidade de cumprir as cláusulas do seu contrato com a editora Schmidt & Hanson e de produzir um romance tão bom ou melhor do que o anterior, Goldman entra em contacto com o seu mentor e antigo professor universitário, Harry Quebert. Aceitando a sugestão deste, o jovem escritor parte para Aurora, no New Hampshire, onde fica alojado em casa de Quebert. Durante a sua estadia, para além de tentar, em vão, encontrar a inspiração, Goldman descobre a passada relação de Harry com uma jovem de que nunca lhe falara: Nola Kellergan.

Algum tempo depois de regressar a Nova Iorque, Marcus depara-se com a notícia que abalará a América: o cadáver de Nola Kellergan, uma jovem de quinze anos que tinha desaparecido em Aurora, no dia 30 de agosto de 1975, foi encontrado, enterrado no jardim de Harry Quebert. Chocado com a notícia e decidido a não permitir que Harry seja condenado por um crime que não cometeu, Marcus regressa a Aurora e dá início a uma investigação que o levará a despertar os fantasmas do passado e a revelações surpreendentes e bizarras sobre a população aparentemente pacata da cidade.

Quem matou Nola Kellergan?

Este livro parece despoletar reações antagónicas junto dos leitores: há quem o adore e quem o deteste. Sinto-me mais inclinada a incluir-me no primeiro grupo, ainda que não de uma forma radical.

"A verdade sobre o caso Harry Quebert" conjuga o mistério e suspense de um policial com o drama de um amor impossível e censurado por todos.

O romance está muito bem construído: um crime horroroso rompe a aparência calma de uma povoação do New Hampshire e todas as evidências apontam para um suspeito. No entanto, à medida que os interrogatórios se sucedem, o leitor vê-se obrigado a repensar quem terá, de facto, raptado e assassinado Nola. Só nas últimas cem páginas, repletas de plot twists e revelações, se compreenderão por completo os acontecimentos daquele fim de tarde de 30 de agosto de 1975.

O facto de ser narrado por um escritor permite-nos penetrar no mundo das editoras e dos interesses materialistas que se esconde por trás dos livros que compramos. Para além disso, aproxima-nos do processo de escrita, incluindo conselhos que Harry dava a Marcus ("O último capítulo de um livro, Marcus, deve ser sempre o mais extraordinário.") e retratando o pânico da "página em branco" que a certa altura atinge os escritores.

Apesar de este ser um daqueles livros que mantêm os leitores colados às páginas do início ao fim, o que é favorecido pela utilização de linguagem corrente e desprovida de artifícios, existem alguns pontos negativos a apontar.

A relação entre Harry Quebert, de 34 anos, e Nola, de 15, é bastante forçada. Apesar de constituir o motivo da impossibilidade da concretização do amor entre a jovem e o escritor, a diferença etária pode ser chocante ou até repugnante para alguns leitores, principalmente por parecer que Quebert se aproveita da adoração cega de Nola.

Além do mais, tanto Marcus como Harry se revelam personagens bastante egocêntricas, fazendo com que os acontecimentos girem à volta da construção dos seus romances.

Ainda assim, esta leitura foi uma experiência agradável e viciante, marcada por descobertas impactantes do início ao fim e por uma imensa vontade de deslindar o mistério do desaparecimento de Nola Kellergan.

Este livro foi adaptado pela HBO a uma série homónima que se mantém bastante fiel ao original, embora considere que o elenco poderia ser melhor.

A vida é uma longa queda, Marcus. O mais importante é saber cair. 
© 2020 Helena Rodrigues, Portugal
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