Arte Poética
Alberga o berço do ocaso o vero início,
Abre-se a história no último amplexo.
Senda sem tenção é enigma desconexo.
Pairam faúlhas sobre o precipício.
Da alvura resta apenas o resquício,
No véu da rima, sombras de um reflexo,
Nas ondas de um lago, num espelho convexo,
Vapor cru sob arcadas de artifício.
Não me atemoriza o espectro que geme,
Nem há linha em branco de que me farte.
O tom da tinta é firme, se a voz treme.
Vidas que se rasgam em toda a parte,
É esta a ferida que o mundo teme,
É desta ferida que faço arte.