"El Prisionero del Cielo" – Carlos Ruiz Zafón

O terceiro volume da saga do Cemitério dos Livros Esquecidos leva-nos à livraria Sempere e Filhos, na Barcelona natalícia de 1957. A ação deste livro inicia-se com a visita de um misterioso velho à livraria, com o objetivo de falar com Fermín. Este ficou visivelmente perturbado quando Daniel o informou da visita do estranho, a quem faltava uma mão e vários dedos da outra, e lhe entregou o livro com uma dedicatória que o velho tinha deixado para ele: "Para Fermín Romero de Torres, que regresó de entre los muertos y tiene la llave del futuro. 13." O aparecimento do mutilado proporciona a Daniel a oportunidade de ficar a conhecer a verdade sobre o passado de Fermín, uma narrativa que ocupa cerca de metade do romance. Através dela, somos inteirados da temporada que Fermín passou encerrado em Montjuïc e durante a qual travou conhecimento com David Martín, escritor maldito e personagem principal de O Jogo do Anjo, que antecede O Prisioneiro do Céu na tetralogia.

O principal intuito deste livro é transmitir, através de uma analepse e de um narrador heterodiegético, o percurso de Martín após ter regressado a Barcelona e ter sido preso em Montjuïc, assim como o modo como a sua loucura o consumia a olhos vistos.

Embora possa parecer que Fermín é a personagem principal desta história, aquele que realmente guarda as chaves dos segredos da família Sempere é David Martín, o Prisioneiro do Céu.

Este é o livro mais simples da tetralogia, bem como o menos emocionante. Isto deve-se ao facto de o enredo não ser tão intrincado como nos outros volumes. Para além disso, não tememos pela vida das personagens, uma vez que estão presentes em romances anteriores, que remetem para períodos posteriores ao da narração desta história. Ainda assim, considero este livro muito importante para a compreensão do universo do Cemitério dos Livros Esquecidos e para a caracterização de algumas das suas personagens.

Gostei especialmente de reconhecer, no epílogo, um episódio que pertence ao livro seguinte (O Labirinto dos Espíritos), estabelecendo uma relação de complementaridade entre os volumes.

Reler esta saga tem-me permitido prestar mais atenção aos detalhes e à maneira como as histórias se organizam a nível cronológico. Este processo leva-me a compreender a tetralogia na globalidade, mas também a detetar algumas incoerências. Considero que o epílogo de O Jogo do Anjo deve, para muitos efeitos, ser ignorado, uma vez que é a principal peça que se recusa a encaixar corretamente na sequência da narrativa. Em O Prisioneiro do Céu, somos inteirados da escrita de O Jogo do Anjo, por David Martín, enquanto este se encontrava preso em Montjuïc, entre 1939 e 1941. No entanto, o epílogo do segundo volume da saga refere que Martín o escreveu numa casa junto ao mar, em 1945. Mais uma vez, é-nos impossível perceber se a incoerência se deve à loucura de David Martín ou a um lapso do autor.

Em suma, O Prisioneiro do Céu é um livro curto e acessível que serve eficazmente de ponte entre os romances anteriores e o desfecho da tetralogia.


El futuro no se desea; se merece. »

© 2020 Helena Rodrigues, Portugal
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