"Histórias Extraordinárias" - Edgar Allan Poe

Esta coletânea de contos de um dos mais aclamados mestres do terror de todos os tempos reúne os títulos "A pipa de amontillado", "O coração delator", "A caixa longa", "Morella", "O gato preto", "O poço e o pêndulo", "O demónio da perversidade", "Metzengerstein", "O enterro prematuro", "O escaravelho de ouro", "A esfinge", "Ligeia", "Berenice", "William Wilson" e "Manuscrito encontrado numa garrafa". De todos eles, só "Berenice" tem um narrador identificado: Egeu. Apesar de todos os contos serem marcados pela bizarria e por um certo distúrbio psicológico que atormenta alguma das personagens, é difícil resumi-los como um todo. Por isso, resumirei apenas "O gato preto", uma das minhas três histórias preferidas (juntamente com "O coração delator" e "Berenice").

O narrador deste conto era conhecido, durante a sua infância, pelo seu "temperamento dócil e amigável" e pelo seu gosto por animais. Teve um casamento feliz e, depois dele, vários animais de estimação. O seu preferido era o gato negro, Plutão, que era como a sua sombra sempre que estava em casa. Contudo, o caráter do narrador foi-se alterando ao longo dos anos, tornando-se mais insensível, irritável e violento. Numa noite em que voltava a casa "bastante intoxicado", agarrou o gato e este mordeu-lhe a mão. Enfurecido e descontrolado, o narrador pegou num canivete e arrancou-lhe um dos olhos a sangue frio. Com o passar do tempo, o animal foi recuperando, embora tenha passado a fugir permanentemente do dono. Mas é a partir da manhã em que o narrador se deixa dominar pela "perversidade" e enforca o gato num ramo de árvore que a desgraça cai sobre ele, num clima de tensão crescente adensado pelo aparecimento de um outro gato preto, parecido com Plutão em todos os aspetos, exceto numa grande mancha branca que lhe cobria o peito. Este é, sem dúvida, um dos melhores contos do Mestre da Literatura Fantástica.

Edgar Allan Poe deixou um enorme legado na literatura do terror, com um espólio de contos imenso. "Histórias Extraordinárias" é uma compilação de alguns dos seus contos mais icónicos, permitindo ao leitor uma breve, mas marcante, incursão no universo macabro deste autor.

É apanágio dos contos o jogo do autor com a mente e com as fraquezas psicológicas humanas, como a perceção dos objetos consoante a sua distância em relação ao observador ou o peso da consciência após uma ação errada. Muitos dos textos podem parecer desprovidos de sentido, mas é sempre bom lê-los para apreciar a construção da trama e do ambiente no interior da mente do narrador. Os desfechos são inesperados e macabros, e o teor obscuro das histórias, ainda que não excessivamente aterrorizante, deixa bem claro o registo literário de Poe, posteriormente replicado por Bram Stoker.


Quem é que não se viu já, muitas vezes, a cometer um ato vil ou idiota por nenhuma outra razão do que a de saber que não deve? Não temos todos nós uma inclinação perpétua, à flor da pele, para violar o que é Lei, só porque a entendemos como tal? »

© 2020 Helena Rodrigues, Portugal
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