"Ivanhoe" - Walter Scott
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Walter Scott, o autor romântico considerado o pai do romance histórico, presenteia-nos com uma obra que tem por base os valores da honra e da coragem. É em plena Idade Média que se desenrola a história de Cedric, um saxónio nobre e orgulhoso, da sua protegida Lady Rowena, dos desprezados judeus Rebeca e Isaac de York, de Wilfred de Ivanhoe e dos conspiradores contra o poder de Ricardo Coração de Leão, entre os quais se conta o seu próprio irmão.
Enquanto Ricardo Coração de Leão se batia contra os sarracenos nas Cruzadas, em Inglaterra pairava um ambiente de conspiração, sendo que o príncipe João planeava usurpar a coroa do irmão e assumir o poder. Simultaneamente, era palpável o descontentamento dos saxónios face à presença normanda em território inglês, que lhes tinha ceifado a independência e os privilégios. Ainda assim, tudo parecia bem encaminhado para o sucesso do estratagema do príncipe João.
É com a organização de um torneio que surgem as personagens que alterarão o rumo da história: um misterioso e hábil cavaleiro de armadura negra e o jovem Wilfred de Ivanhoe, o filho que Cedric renegara, por lhe ter desobedecido ao partir para as cruzadas com o rei Ricardo. Ivanhoe e Lady Rowena, a protegida de Cedric, ainda que há muito apaixonados, tinham como obstáculo à sua união a intenção de Cedric de a casar com um nobre saxónio.
O regresso de Ivanhoe desperta o receio da possibilidade do retorno de Ricardo, e os presunçosos nobres normandos começam a cair um por um, à medida que o fracasso dos seus planos se torna cada vez mais iminente.
Em termos de retrato da sociedade da Idade Média na Grã-Bretanha, este livro é um precioso artefacto. Ao lê-lo, somos inteirados de uma das usurpações de poder mais marcantes da História, do contexto social tenso criado pela interação entre normandos e saxónios, da organização territorial britânica da época e do desprezo de que, já nessa altura, os judeus eram alvo (o que me surpreendeu particularmente). Walter Scott inicia o romance com uma contextualização histórica e acaba-o referindo os acontecimentos mais relevantes que sucederam após o desfecho. Como não aprecio finais abertos, considero o facto de este romance ter um final fechado um ponto positivo.
Pelo contrário, os restantes aspetos da obra não me agradaram muito. A estrutura da narração, aos avanços e recuos, para poder abarcar todos os pontos de vista dos acontecimentos, fazia com que, por vezes, me perdesse na linha temporal. Achei a ação tipicamente romântica, assim como a própria construção frásica. A narração é um pouco repetitiva, principalmente no que toca à preocupação das personagens com a sua linhagem, algo característico da época retratada.
Um ponto que considerei particularmente desconcertante foi o facto de os títulos de alguns capítulos constituírem spoilers em relação à ação.
Por fim, afirmo que consideraria mais apropriado que o romance se chamasse "Rebeca", em vez de "Ivanhoe", uma vez que a judia, para além de ser a personagem mais bem construída, é a mais marcante ao longo da obra. De facto, é uma personagem essencial para o desenrolar do enredo e muito mais presente do que Wilfred de Ivanhoe.
Concluo que este romance constitui um ótimo retrato do contexto político-social da Grã-Bretanha na Idade Média, embora o enredo fique aquém do esperado. Decididamente, o género romântico não se inclui nos meus favoritos.