"Mil Vezes Adeus" - John Green

Aza e a sua amiga Daisy estão no último ano do Ensino Secundário e deparam-se com a dura realidade dos custos do ensino superior nos EUA. O destino parece sorrir-lhes quando surge a notícia do desaparecimento de um milionário residente na sua cidade (Indianápolis), cujo filho (Davis) travara amizade com Aza num acampamento para crianças órfãs, anos antes. Determinada a receber a recompensa de cem mil dólares que as autoridades oferecem por informações relativas ao paradeiro do milionário, Daisy convence Aza a reatar os laços com Davis. Apesar das suas intenções iniciais, Aza não consegue evitar sentir o renascer da paixão que o rapaz milionário despertara nela quando eram pequenos.

A investigação de Aza e a sua relação com Davis são ensombradas pelas suas "espirais de pensamentos", que teimam em toldar-lhe o raciocínio. Ela sofre de um Transtorno Obsessivo Compulsivo que transforma tudo o que a rodeia num mundo de micróbios potenciadores de doenças.

É entre um mistério por resolver, uma paixão por domar e um distúrbio por superar que se desenrola a entusiasmante, comovente e, por vezes, exasperante história de Aza Holmes.

Esta foi a última oportunidade que dei a romances de John Green. Foi o quinto livro deste autor que li, e A Culpa é das Estrelas continua a ser o único de que gostei.

John Green peca pela sua previsibilidade e pela superficialidade das suas personagens. Por muito interessante que seja o retrato da mente de uma pessoa com TOC, esse é o único traço inovador e cativante da protagonista. De resto, o caráter das personagens é comum e a relação entre elas é um grande clichê: uma rapariga com recursos modestos apaixona-se pelo rapaz rico, a melhor amiga acaba por se chatear com ela devido às consequências do seu problema mental e (SPOILER ALERT) fazem as pazes após um acidente de automóvel que põe as suas vidas em risco. Não há profundidade nestas personagens, são uma representação pálida, imperfeita e, até, enervante dos adolescentes: o autor faz questão de introduzir a palavra "tipo" nos diálogos, como se isso contribuísse para um melhor retrato dos jovens de hoje. Por melhor que seja a intenção, incomoda-me, e penso que poderia ter compensado o défice de realismo de outra maneira.

Este livro poderia ser um bom livro, se fosse mais longo. É difícil concretizar com sucesso a premissa desta história num livro tão curto. A relação de Aza com Davis e a investigação da morte de Pickett não evoluem realisticamente, nem de uma forma minimamente plausível. A carga de mistério que podia estar associada ao enredo perde-se entre todos os assuntos paralelos, e nenhum deles acaba por ser desenvolvido da maneira que devia. Um livro mais longo permitiria desenvolver melhor as personagens, adensar a intriga do desaparecimento do milionário e abrandar a evolução da relação entre Aza e Davis.

Assim sendo, apesar de ter sido, como pretendia, uma leitura leve para quebrar um período de livros mais "sérios" e de me ter posto em contacto com uma realidade que não compreendia bem (a de uma pessoa que sofre de TOC), este livro não me fascinou e, certamente, não entrará na minha lista de recomendações.

Qualquer pessoa pode olhar para ti. É bastante raro encontrar alguém que veja o mesmo mundo que tu. » 

Estar viva é sentir falta. » 

(...) e nunca ninguém diz adeus a não ser que queira voltar a ver-te. »

© 2020 Helena Rodrigues, Portugal
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