"Montanhas Douradas" - C Pam Zhang
A corrida ao ouro domina o Oeste dos Estados Unidos da América quando Lucy e Sam, irmãs separadas por um ano e duas maneiras de ser totalmente distintas, se veem sozinhas após a morte do seu pai. Ba, como lhe chamavam, era um prospetor cuja vida se resumia a transportar a sua família de origens orientais através do território americano à procura de filões de ouro que, invariavelmente, já tinham sido esgotados por outros. Em consequência, a família via-se obrigada a sobreviver no seio das dificuldades e da escassez de recursos, trabalhando nas minas de carvão e alimentando-se parcamente.
Lucy era a mais inteligente das irmãs e, por isso, foi a que frequentou a escola durante mais tempo. Era a mais velha e também a que conseguia fazer uma análise mais racional das situações com que se deparava. Já Sam, bela, forte e andrógina, era fruto da influência do pai e deixava-se dominar pela impulsividade e irreverência.
Após a morte de Ba, Lucy e Sam têm nas mãos o seu próprio futuro, e embarcam numa longa viagem que as levará através do espaço e do tempo, nas tórridas planícies americanas onde já não se avistam tigres.
O que faz um fantasma ser um fantasma? Pode uma pessoa ser assombrada por si própria? »
Montanhas Douradas foi um dos livros do ano de 2020 escolhidos por Barack Obama. Ao que parece, o nosso gosto literário não é muito similar.
O primeiro aspeto que me marcou no romance de estreia de C Pam Zhang foi a crueza do seu estilo. Numa escrita austera e pouco adornada, a autora aproxima-se da aridez da paisagem que descreve e do modo de vida parco em recursos das personagens principais.
Apesar de o início não me ter cativado, o avançar da ação vai envolvendo o leitor na narrativa, através de analepses que vão revelando o passado das personagens e, em consequência disso, vão revelando o seu caráter. Assim, a personagem odiada ganha uma oportunidade de redenção, a figura admirável revela os seus matizes mais escuros e o presente narrativo é iluminado por uma nova luz.
Penso que o principal motivo que me levou a não gostar tanto deste livro como esperava foi o facto de retratar uma realidade com que nunca tinha contactado e com que, por isso, não conseguia identificar-me de forma nenhuma. No entanto, a mesma razão permitiu-me sair da minha zona de conforto e ser, por algumas horas, transportada para o coração da América em plena era da corrida ao ouro.
Montanhas Douradas é um livro sobre a família, a emigração e a xenofobia. Um livro sobre o sentido de pertença, o sentido do dever e o sentido da vida. É um livro sobre escolhas e sacrifícios. Uma viagem longa, mas compensadora.