"Noites Brancas" - Fiódor Dostoiévski
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Noites Brancas: fenómeno atmosférico que ocorre entre o final de maio e meados de julho, nas regiões próximas do Círculo Polar Ártico. Durante este período, o sol nunca se põe totalmente e o céu permanece brilhante durante toda a noite com uma luz semelhante à luz do pôr do sol.
O narrador de Noites Brancas, cujo nome desconhecemos, é um residente de São Petersburgo que tem a sensação de conhecer intimamente todos os sítios e todas as pessoas, apesar de mal estabelecer relações com quem quer que seja. A atmosfera da cidade perturba-o e ele acalenta o desejo de imitar aqueles cujas posses lhes permitem abandonar o centro e passar uma temporada no campo.
Num dos seus passeios solitários pelas ruas de São Petersburgo ao fim do dia, o narrador depara-se com uma jovem que chora, encostada a um parapeito. Acometido por uma paixão avassaladora, não resiste a entabular conversa com ela, um diálogo que lhe permitirá confessar a angústia da solidão em que a sua vida está mergulhada e captar o interesse da rapariga, de tal modo que decidem voltar a encontrar-se. Ao longo de quatro noites, a história da jovem Nástenka vai-se revelando e arrastando o narrador para um conflito interior entre a importância da felicidade da rapariga e a dimensão do seu amor por ela, cuja reciprocidade se vê ameaçada por aquele que causara as lágrimas choradas por Nástenka na noite do seu primeiro encontro.
Noites Brancas é, como o subtítulo indica, um "romance sentimental". Como tal, não é de estranhar que retrate o arrebatamento de um jovem perdidamente apaixonado. Sendo esse o objetivo primário do autor na construção desta história, o facto de eu não a ter apreciado dever-se-á, principalmente, à minha falta de inclinação para este tipo de enredos. De uma perspetiva realista, seria praticamente impossível que uma paixão desta amplitude fosse despoletada por um encontro tão curto e casual, ou que a jovem acedesse a reencontrar-se na noite seguinte com um perfeito estranho.
Por seu lado, o relato da história de Nástenka constitui a parte mais cativante do livro. O conceito de viver presa por um alfinete à saia da sua avó cega pareceu-me curioso, e pensei que a narrativa que até ali me aborrecia iria finalmente melhorar. Contudo, isso não aconteceu. A ação encaminhou-se para o desenlace e a personagem da ansiosa jovem deteriorou-se a olhos vistos, culminando num final tanto imprevisível como absurdo.
Assim sendo, penso que não foi a melhor maneira de me iniciar na literatura russa, em relação à qual tinha expetativas a que este livro não correspondeu. Uma história dominada pelo sentimentalismo, pelo exagero e pela bizarria que, a meu ver, falha ao tentar elevar o estatuto de um sonhador solitário, acabando por humilhá-lo.