"O Cântico de Natal" – C. Dickens
Numa história particularmente apropriada para a época festiva que atravessamos, Dickens confronta-nos com a fria personagem de Ebenezer Scrooge. Scrooge era um homem avarento, egoísta, cúpido e insensível, que dirigia um gabinete de prestamistas desde que Marley, o seu sócio, tinha falecido.
A ação deste livro desenrola-se na época natalícia, a que Scrooge se opõe terminantemente ("Bah! Disparates!"). Numa noite após uma jornada de atitudes egoístas e comentários rudes, Scrooge é visitado pelo espectro do falecido Marley, que o alerta em relação ao destino que o espera, se continuar a viver daquela maneira, e lhe oferece uma oportunidade de redenção através da visita de três espíritos: o do Natal Passado, o do Natal Presente e o do Natal Futuro. Apesar da sua oposição inicial, Scrooge acaba por aderir às viagens no tempo proporcionadas pelos espectros, que fazem com que ele se aperceba da quantidade de oportunidades para ser bom e feliz desperdiçou, das dificuldades em que vivem aqueles que o rodeiam e do futuro que lhe está reservado em consequência das suas ações. Pouco a pouco, o espírito natalício e a urgência de fazer o bem invadem a alma de Scrooge, que acaba por se empenhar no processo para se redimir do seu passado, consciente de que o mundo e a vida são muito mais agradáveis quando nos permitimos ser felizes e partilhamos o que temos com quem mais precisa.
Na minha opinião, não há melhor maneira de complementar esta quadra do que com a leitura deste livro. Apesar de retratar um prestamista do século XIX, Dickens dirige-se a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, não encarnam o verdadeiro espírito natalício e as virtudes que o acompanham. Num apelo à misericórdia, à benevolência, à caridade e à tolerância, "O Cântico de Natal" desperta no leitor a consciência da importância do amor ao próximo e da finitude da existência humana, que nenhum apego material consegue inibir.