O Nome da Rosa
Umberto Eco
Nesta viagem no tempo até ao século XIV, acompanhamos a história de Adso de Melk, um noviço beneditino, escrivão e discípulo do douto franciscano Guilherme de Baskerville, numa abadia italiana atingida por desgraças sórdidas.
O mês de novembro chegava ao fim quando, numa madrugada, o cadáver de Adelmo de Otranto, um jovem monge miniaturista, foi encontrado no fundo das escarpas que rodeavam a abadia. Guilherme de Baskerville foi encarregado da resolução do mistério da morte de Adelmo, que se complexificava à medida que outros cadáveres apareciam nas circunstâncias mais invulgares.
Todas as mortes se relacionavam com um livro misterioso, outrora cuidadosamente guardado no Finis Africae, o compartimento mais recôndito da biblioteca labiríntica da abadia.
O Apocalipse de João parecia ditar a sequência de assassinatos que agravavam o período conturbado que a comunidade religiosa atravessava, com a proliferação de companhias de frades menores e de seitas heréticas, com a cisão entre o Papa João XXII e a ordem franciscana e com a iminência da chegada do tão temido Anticristo.
Este é, sem dúvida, o livro mais denso que alguma vez li. Eco emprega (de forma deliberada, como nos explicará no apêndice) um vocabulário rebuscado, conjugado em frases extremamente longas e complexas. Apesar de constituir uma espécie de teste à persistência do leitor e de se aproximar do estilo literário da época, este registo sugou a maior parte do meu entusiasmo em relação a uma narrativa que podia ser muito mais aliciante.
Para esta quebra de fascínio contribuiu também a constante interrupção da intriga por extensas reflexões e discussões de teor filosófico e teológico, nomeadamente sobre a legitimidade do riso, a pobreza de Cristo, as seitas de frades menores e heréticos (de entre os quais se destaca Frei Dolcino) e a profecia do Anticristo. Não considero que estas intrusões eruditas devessem ser retiradas, na medida em que são decisivas para compreender o passado de algumas personagens e o desenrolar de determinadas peripécias, para além de enriquecerem o leitor através de informações com que nunca se tinha deparado. No entanto, penso que, se fossem ligeiramente simplificadas e menos reiteradas, o livro se tornaria mais leve e indefinidamente menos exaustivo.
O verdadeiro prazer deste romance reside em relê-lo, identificando as pistas e detalhes que tinham passado despercebidos numa primeira leitura e analisando as reflexões a uma nova luz. Esta revisão do enredo foi-me necessária, uma vez que o estilo complexo do autor e os acontecimentos e reflexões paralelas ao mistério basilar do romance me fizeram perder "o fio à meada" por variadas vezes. O facto de os capítulos serem introduzidos por uma pequena síntese do seu conteúdo facilita imenso o processo de recapitulação dos principais pontos de progresso da ação.
O apêndice de que o romance se faz acompanhar é especialmente relevante em termos de análise do processo de escrita e de compreensão do ponto de vista de Eco em relação à sua obra e aos seus leitores.
São inegáveis a qualidade da trama urdida, a profundidade do caráter de todas as personagens e a deliberação cuidada do autor relativamente a todos os aspetos que compõem este romance.
Este ícone da literatura erudita ocupa um lugar de destaque no género de romance histórico e exige uma leitura demorada e atenta por parte de um leitor com uma maturidade e uma bagagem intelectual extraordinárias.
(...) e ele respondeu que gostava de ficar fascinado com as coisas que lhe agradavam e não com aquelas que os outros lhe aconselhavam. »
Para que haja um espelho do mundo é necessário que o mundo tenha uma forma. »