“Quem disser o contrário é porque tem razão” – Mário de Carvalho

Neste ensaio galardoado com o prémio P.E.N. Clube 2015, Mário de Carvalho, figura de destaque na atual paisagem literária portuguesa, decompõe a criação literária nos seus vários componentes e guia o leitor através das "camadas" que compõem um texto literário. Desde a importância da perspetiva da narração à necessidade de estabelecer a ambiguidade perturbadora indissociável da boa literatura, são abordados os pontos-chave e os conceitos fundamentais para uma compreensão mais aprofundada do fenómeno de criação de uma narrativa de ficção.

Este livro demarca-se da maior parte dos guias para aspirantes a escritores por se recusar a dar instruções como as daqueles que encaram a escrita como um processo linear. O próprio título reflete a posição do autor relativamente ao conteúdo deste ensaio: pode ser que quem diga o contrário também tenha razão, já que o exercício pode ser levado a cabo das mais diversas formas.

Pensar que se fica apto a escrever depois de ler um compêndio de escrita criativa é o mesmo que julgar que se passa a dominar uma língua após ter comprado um dicionário. »

Este livro foi-me recomendado pela minha professora de Introdução aos Estudos Literários, pela sua relação com os conteúdos lecionados na cadeira. Assim, a minha leitura não foi feita na perspetiva de quem pretende escrever um livro, mas na de alguém que pretendia compreender alguns conceitos e princípios que alicerçam o mundo da literatura. Chegada ao fim deste ensaio, posso afirmar que este cumpriu o seu objetivo: reconheci nestas páginas conceitos com que já tinha contactado em contexto de aula, e fiquei a conhecer outros que certamente me serão muito úteis ao longo do semestre.

Apesar de se tratar de um ensaio muito acessível ao público em geral, dada a simplicidade das explicações do autor acerca de conceitos técnicos, considero-o ligeiramente elitista. Isto porque Mário de Carvalho recorre à enumeração de inúmeros exemplos de obras literárias para ilustrar as suas explicações, partindo do princípio de que o leitor é já um grande conhecedor dos grandes clássicos. Em todo o caso, estes exemplos abrem caminhos para novas leituras.

Em conclusão, Quem disser o contrário é porque tem razão é um ensaio esclarecedor e enriquecedor, adequado tanto para aqueles que almejam conceber uma obra de ficção como para aqueles que procuram entender os meandros do mundo da literatura.

A boa literatura liberta. »

Dificilmente conseguirá ser inovador e original aquele que não considerar os outros. »

© 2020 Helena Rodrigues, Portugal
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