Salomé
Só, raquítica, envelhece,
Dos tempos idos refém
De ecos de risos, além,
Que a memória desvanece.
Qual beata numa prece,
Cânone de amor de mãe,
Cozinha p'ra dois, p'ra cem,
Como o seu anjo merece.
Sobre o rumor do vaivém,
Um ranger que reconhece:
O seu neto as escadas desce,
Companhia que convém.
Num alento, quase esquece
Qual o dia, quem é quem.
Rente ao halo de ninguém,
O seu semblante escurece.
Junto à mesa se detém.
Em frente, a sopa arrefece.
Sorri, mudo, e agradece
O neto que já não tem.