Tédio
Tédio: matéria de estudo,
Tormento comum da raça
Que empurra, com mão devassa,
Qualquer vestígio de solicitude.
Sei que há paz que satisfaça
Na inércia que nos enlaça.
Por vezes, contudo,
Dava jeito uma desgraça,
Sem aviso, uma ameaça
Que corroa, que desfaça,
Que abale os pilares de tudo.
Já não posso com o discorrer mudo
Do tempo, e de lento que passa,
Tolo, mesquinho, parece achar graça,
E pensar que o conheço - como me iludo!
Águas paradas, caso bicudo.
Por aqui fico, fitando a vidraça,
Entre as mãos a mesma pasta lassa
Que um dia chamei virtude.